segunda-feira, 15 de julho de 2013

Foz do Iguaçu e a volta pra casa!

Após nossa passada pelas Missões Jesuíticas Guaranis, seguimos em direção as Cataratas do Iguaçu. Quem nunca teve a oportunidade de visitar essa maravilha da natureza, precisa incluir uma viagem urgente a Foz. A sequência de cachoeiras e seu volume d´água são impactantes.

As quedas de Iguaçu
Vimos muitas cachoeiras durante a viagem e temos um carinho especial por todas elas, mas Foz é demais! Você não se cansa de olhar e tentar contar quantas cachoeiras enxerga. Poderíamos inventar uma palavra para coletivo de cachoeiras, só para usar nesse caso.
O número de quedas d’água pode variar de 150 à 270 de acordo com a estação seca ou chuvosa. O volume de água é tão absurdo que chega a dar a falsa ilusão que essas campanhas de economia de água são balelas.  

Muita água!
Essa belezura da natureza se encontra na fronteira entre Argentina e Brasil. Cada país tem seu parque nacional, do lado argentino chama-se Parque Nacional Iguazú e no Brasil, Parque Nacional Iguaçu. Apesar da diferença de uma letra, o ideal é realizar os dois lados mesmo. Isso porque do lado argentino chega-se mais perto das quedas d’água (quem já se enfiou no meio da Garganta do Diabo entende o  que estou dizendo) enquanto do brasileiro, a visão é panorâmica, mais de longe.
O circulo marca onde está o bote do Macuco Safari
Mesmo sendo panorâmica, o mais indicado é ir com uma capa de chuva, pois em alguns pontos você se molha bastante. Principalmente para quem quiser se aventurar até o Mirante da Garganta, local com muito respingo. Fizemos essa atração sem a capa com plena consciência de que ficaríamos molhados. Dito e feito: ficamos molhados e depois gelados mas faríamos novamente. Essa respingada do Iguaçu é energizante!
E não se engane que esse é um passeio de pouca adrenalina. Quem quiser um pouco mais de aventura, tem o Macuco Safari a disposição. Esse serviço tem um custo adicional mas recomendamos pois é super divertido. Chegar pertinho das quedas é emocionante e saiba que você vai se molhar muito, mas muito mais do que imaginava ou que uma capinha de chuva pode aguentar. Diversão garantida ou pode reclamar com a gente ;)
Passarela do Mirante do Diabo
Duas são as cidades base: Puerto Iguazú (Argentina) e Foz do Iguaçu (Brasil). A cidade brasileira é mais bonita e conta com mais serviços. Além disso, todos os campings do lado argentino estavam fechados. Enquanto no Brasil ficamos num dos melhores campings da viagem – o Paudimar.
Mesmo com esse movimento turístico intenso, existem procedimentos de fronteira entre os dois países. Saimos da Argentina com o RG e apenas apresentamos o documento do carro. Foi nossa último trâmite internacional desta travessia das Américas. Estamos de volta, Brasil! Nem dá prá acreditar, após mais de 20 procedimentos de fronteira, para nós e para o carro! Quanta burocracia enfrentamos!!! Nossa dica nesse caso é abastecer o carro na Argentina, o combustível é bem mais barato não importa o câmbio que faça.

A última fronteira!
Foz do Iguaçu é uma antiga conhecida. Dessa vez nos limitamos as passarelas do lado brasileiro. Nada de Macuco, nem de lado argentino. Bom, até que tentamos visitar o parque Iguazu mas esbarramos numa funcionária tão orgulhosa que demos meia volta e fomos para nosso país. Olha seguramos bem a onda com relação ao orgulho de nossos vizinhos mas essa última não deu prá engolir. Do ladinho da fronteira e já tendo visitado o parque, nos demos ao luxo de dizer que íamos voltar pro nosso país e eles que ficassem na Argentina.  Em um dos dias fomos até o Paraguai comprar dois novos sapatinhos pro Jumbo. Todos falaram que os pneus eram muito baratos e como estávamos com os pneus traseiros com outro tamanho do dianteiro, decidimos fazer isso nesse país. Como compramos pneus originais, o preço não foi tudo isso. O que vimos nessas poucas horas foi um armamento intensivo em todas as lojas . Seguranças com escopetas nos deixaram desconfortáveis. Nos explicaram que essas armas são para proteger os turistas que vem até ali comprar. Ainda assim, achamos muito estranho, coisa igual só vimos parecido em Honduras.
Ciudad del Leste
Para ir até Ciudad del Este, não precisamos fazer imigração, seguro ou qualquer outro procedimento para o carro. Agora, se pretende sair por outra fronteira, o ideal é realizar todos os procedimentos direitinho para evitar problemas.
De Foz, seguimos para Cornélio Procópio, cidade de queridos amigos que nos recepcionaram com muito amor e alegria. Foi em Cornélio que percebemos que nossa travessia das Américas chegava ao fim.
Amigos e afilhados!
Seguimos para Santos mas decidimos pegar o caminho mais longo, pela BR116, evitando descer a Serra do Mar e passar por São Paulo. Dias antes ouvimos falar de um congestionamento de 46 kms na estrada que liga São Paulo a Santos, a Anchieta. Sabendo que a distância Santos/São Paulo é de 60 quilômetros significava mais da metade da estrada parada. Esse tipo de notícia entristeceu um pouco nossa volta. Afinal de contas, estamos voltando para essa realidade.


Essa é a Ponte Pênsil de São Vicente. Quanto tempo!



Orla de Santos







segunda-feira, 1 de julho de 2013

Missões Jesuíticas Guaranis: Brasil e Argentina

As missões formadas pelos padres jesuítas fazem parte de uma história desconhecida para nós brasileiros. Não aprendemos muita coisa sobre esse movimento sócio-educativo-religioso que aconteceu no coração da Cuenca del Plata, uma área fértil nos territórios do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
São Miguel Arcanjo, no Brasil

Foram 30 reduções de índios guaranis integradas que formaram as Provincia Jesuítica de Misiones. Dessas, sete ficam em território brasileiro, 15 na Argentina e oito no Paraguai. Lembrando que no tempo das missões, o território desses países ainda não tinha sido delimitado pelo Tratado de Madrid e as fronteiras dos países que hoje possuem essas ruínas ainda não estavam definidas. Todo esse território estava sob domínio espanhol.
Os jesuítas tinham como principal objetivo no Novo Mundo a difusão da fé católica. Preocupados com a expansão do protestantismo, a Igreja Católica resolveu enviar para a América os padres jesuítas, incumbidos de convocar mais almas para o reino de Deus e assim, continuar maior em número de fiéis em relação a essa nova religião que crescia.
Os missionários que vinham para cá passavam por um alistamento parecido com os militares de hoje: deveriam se adaptar a qualquer ambiente do planeta e eram vetados caso apresentassem alguma limitação física. Diferente de outras ordens religiosas, os jesuítas eram o que chamamos de PPTO (pau prá toda obra). Visitando as ruínas das antigas reduções fica claro que os religiosos eram multiuso: entendiam de construção, de domesticação de plantas, de aproveitamento de recursos hídricos, de arte, de música, de ensino entre outras habilidades e junto aos índios guaranis, organizaram cidades que somadas ultrapassavam os 140 mil habitantes ao final de 150 anos de evangelização. Essa população era maior do que a de Buenos Aires na mesma época, por exemplo.
Mapa das missões
As missões estavam em pleno florescimento econômico e cultural quando o Tratado de Madrid estabeleceu novas fronteiras entre Portugal e Espanha, representadas hoje por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Portugal trocou Colonia del Sacramento – hoje Uruguai, pelas terras ao leste do rio Uruguai - hoje Rio Grande do Sul. Nessa troca, as sete missões localizadas nesse território passaram a fazer parte da colônia portuguesa.
Com isso, os guaranis se revoltaram porque estavam estabelecidos em tais missões há anos e estas estavam prósperas e organizadas. Não queriam sair desse território nem ficar sob o domínio dos portugueses. Além do mais, os bandeirantes continuavam capturando guaranis para o trabalho escravo e essa mão de obra gratuita e especializada seria uma ótima aquisição para as fazendas de café. Por sua vez, os jesuítas foram acusados de apoiá-los e dessa forma, uma agressiva campanha foi montada contra as missões. A Guerra Guaranítica estava armada.
A pior batalha aconteceu em 1756 em território hoje brasileiro onde 1500 indígenas foram massacrados em pouco mais de uma hora pelas tropas espanholas e portuguesas. Tal batalha recebeu o nome de Batalha de Caiboaté. Houve outras batalhas todas ganhas pelos europeus e esse foi o início do fim das missões.

As ruínas e o que visitar
Acima, pusemos um pequeno histórico do que foram as reduções na América, coisas que descobrimos nas visitas aos sítios arqueológicos. Demos uma resumida para não ficar muito chato mas acreditamos que é super importante saber o que aconteceu na nossa terra já que os jesuítas ajudaram a construir a identidade do povo brasileiro.
Nós conhecemos cinco reduções: no Brasil, São João e São Miguel e na Argentina, Santa Ana, Nuestra Señora de Loreto e San Ignacio Mini. Não fizemos Trinidad no Paraguai mas as recomendações de lá são muito boas.
Traçado das reduções
A urbanização das missões é praticamente a mesma. Cidades planejadas a partir de uma cruz que marcava o centro da missão e da praça. Em uma das laterais, sobressaia a Igreja junto com a casa dos padres, colégio e oficina de um lado e do outro o cemitério e o coti guaçu (casa das viúvas e órfãos). Ainda em volta da praça se encontrava a prefeitura, as casas dos indígenas e as terras para cultivo particular e coletivo. Atrás da Igreja havia a horta dos padres, onde eles cultivavam suas hortaliças e faziam aclimatações de plantas europeias ao Brasil.
O trabalho era dividido dessa forma: os homens faziam o trabalho rural, de carpintaria e de ferreria. As mulheres eram responsáveis pelos trabalhos domésticos, pelo cuidado com as crianças, cozinhavam e teciam. Os meninos iam para escola onde aprendiam com os missionários as primeiras letras e outros conteúdos escolares. Todos participavam de trabalhos artísticos e religiosos.
Rua larga entre as casas dos indígenas

Para manter a coesão popular, os jesuítas respeitaram o poder do cacique e aplicaram um rigoroso sistema produtivo. Cai por terra quem pensava que eram unidades comunistas; as reduções foram uma nova forma social mas com hierarquias bem definidas. 
As missões que visitamos no Brasil ficam em fácil acesso a partir da RS 285. Existem placas informativas na estrada. São João tem mais informações escritas do que ruínas. Poucas coisas restaram em pé. Foi um bom começo, nela pudemos entender a organização física da missão, que se repetiria em todas as outras visitadas. Nessa a entrada é gratuita e algumas placas informam o que você está vendo.
São João Batista 

São Miguel das Missões é a melhor preservada das reduções no Brasil. Descobrimos em outra visita que a igreja de São Miguel não precisou ser reerguida pois como essa é uma redução jovem, a técnica empregada na construção foi mais moderna.  São Miguel é impactante e muito linda ao entardecer. Como ponto negativo ficam as placas informativas, quase todas apagadas e pouco legíveis. Por ser a missão mais visitada no Brasil, deveria estar melhor conservada. Nas noites sem chuva ocorre o Espetáculo de Som e Luz, uma apresentação da Batalha de Caiobaté poetizada. Achamos poético demais e informativo de menos, saímos cheios de dúvidas da apresentação, sanadas com muita pesquisa na internet e nas visitas as ruínas da Argentina.
Espetáculo de Som e Luz

Em São Miguel existe ainda um pequeno museu com lindas obras barrocas guaranis, confeccionadas pelos indígenas através da supervisão dos religiosos. As obras são todas sacras.
Arte barroco guarani

Do lado argentino, a primeira missão visitada foi a de Santa Ana. Acompanhados de guia, tivemos uma explicação bárbara sobre a vida nas reduções. Foi uma verdadeira aula de história! O sítio está bem conservado e tem como destaque não ter sido reconstruído, mantendo características originais. O lugar ganha vida com o guia que pontua detalhes que passariam despercebidos por olhos leigos.
Repare no espaço  deixado pelas vigas de madeira do telhado

Depois seguimos para as ruínas de Nuestra Señora de Loreto que tem como destaque os banheiros (latrinas) encontrados apenas nesse sítio. Não se sabe se não existiam banheiros em outros sítios. Chovia muito e limitamos nossa visita às latrinas mesmo. 
Latrinas

As últimas ruínas que visitamos foram as de San Ignacio Mini, as mais famosas de todas as reduções jesuíticas guaranis. San Ignacio foi totalmente reconstruída, reerguida e com isso, perderam-se algumas características da época. Mesmo assim, esse sítio justifica ser o mais famoso do pedaço pois a sensação da dimensão das reduções é muito maior nesse lugar. Muitas placas informativas – em várias línguas- ajudam a compreensão.
Igreja de San Ignacio Mini

O museu é bárbaro, com muitas informações e obras desse período. Esse foi o lugar onde conseguimos fechar nosso conhecimento sobre as missões.

Dicas Anima:
- separe dois dias para fazer esse roteiro. Se incluir o Paraguai, reserve mais um dia.
- faria novamente todas as reduções que fizemos, uma complementou a outra.
- no Brasil, é possível pernoitar em São Miguel das Missões. A cidade é pequena mas oferece algumas acomodações e restaurantes. Nós optamos por um camping selvagem no estacionamento da redução.  Do lado Argentino, passamos uma noite em Posadas (essa é a cidade-base para se conhecer Trinidad no Paraguai), num hotel, e em San Ignacio, num camping na rodovia.
- dá prá incluir uma visita às reduções da Argentina numa viagem a Foz do Iguaçu. Fica um pouco corrido para fazer em um dia mas é bem possível.
- Posadas é uma cidade simpática, principalmente a região beira rio. Tem bons restaurantes e bares com vista para o Paraguai, que está na margem oposta.
- em São Miguel pagamos R$ 5,00 por pessoa pela entrada e mais R$ 5 para o espetáculo de luz. Na Argentina, compra-se um ticket na primeira redução que vale por alguns dias para as quatro missões abertas para visitação nesse país – San Ignacio Mini, Santa Ana, Loreto e Santa Maria La Mayor. Pagamos AR$ 40 por pessoa (preço especial para residentes da América Latina).
San Ignacio, Argentina
- ainda existe o espetáculo sombra e luz em San Ignacio Mini que aparentemente é melhor do que o brasileiro. Perdemos, pois quando chove o espetáculo é cancelado.
- o turista que visita o lado brasileiro é na sua maioria escolar do Rio Grande do Sul. Acreditamos que acontece isso por alguns motivos. Além da pouca divulgação, nossos sítios não possuem informações em outras línguas e esse tipo de visita é mais cultural que visual, precisa ter informação escrita para ser completo. Do lado argentino, muita diferença. Tem uma estrutura melhor para o visitante, com placas em outras línguas, folders entre outros. 
- a fronteira entre Brasil e Argentina foi tranquila, usamos a identidade e apresentamos o documento do carro e a carta verde na fronteira. Não esperávamos o valor do pedágio para cruzar o rio Uruguai, AR$ 120. Esse valor poderia ser pago em reais também. Cruzamos de São Borja (BR) para San Tome (AR).
Arte para aproximar os guaranis
- para gente, conhecer esse pedaço da história do Brasil foi uma grata surpresa. Ficamos admirados com a versatilidade dos jesuítas. A estratégia deles para propagar o catolicismo foi simples: mantiveram algumas características da cultura indígena, aprenderam sua língua e utilizaram a arte como elemento evangelizador. Além disso, a fé católica tem várias similaridades com as crenças guaranis – o monoteísmo é a principal delas e os jesuítas souberam usar isso ao seu favor. Mas as missões não foram apenas centros religiosos. Também promoveram uma nova organização do trabalho e se converteram em verdadeiras unidades de produção. Os missionários também são responsáveis pela domesticação da erva mate, amplamente cultivada e consumida na Bacia do Prata.  A importância das reduções para o Brasil é muito maior do que as placas apagadas de São Miguel tentam esconder.
- Você assistiu um fime chamado "As missões" com o Robert de Niro e Jeremy Irons? Não perca seu tempo. O filme possui erros históricos gigantes e além de tudo é chato. 
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