segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Um ano Anima! do

Um ano atrás, saímos de Santos com um carro e um sonho. Muita vontade, mas pouca experiência. Estávamos ansiosos, estressados e cansados pois os preparativos nos consumiram. Tínhamos uma vaga idéia do que nos esperava, mas nunca havíamos feito nada parecido

Hoje olhamos para trás e não vemos um ano de viagem, mas 365 dias de experiências inesquecíveis e de muita aprendizagem. Cada um desses dias foi diferente do outro. E em cada um aprendemos muito sobre como viajar, sobre relacionamento com pessoas diferentes de nós, entre nós e sobre nós mesmos. Quando pensávamos que teríamos uma rotina, pronto, algo novo acontecia. Nossa rotina tem sido a falta de rotina.

Como ficamos pouco tempo em cada lugar, a gente tem pouco tempo para criar uma rotina diária. Nossa habilidade em viver viajando com a casa nas costas a cada dia tem se superado. Temos aprendido uma porção de coisas novas. Encontrar o caminho com o GPS e mapas e sem eles, filtrar informações de internet e guias de viagem, ler nas entrelinhas os relatos de viajantes, criar facilidades dentro do Jumbo, o timing certo para lavar as roupas, a quantidade de alimentos estocados, o horário limite para decidir onde passar a noite, as fotos que devemos fazer, como construir textos e até o tipo de cidade que é mais fácil para gente. Digo isso porque já sabemos que cidade grande não é boa para quem está fazendo uma viagem como essa. Na cidade grande a gente se perde, fica muito tempo parado no trânsito e não consegue estacionar o carro. O ideal nesse tipo de viagem são as cidades menores. 


Com certeza nossa viagem não é como férias. Mas também não é como um trabalho. Tem se encaixado mais no perfil sabático mesmo, um tempo para ouvir, aprender e ensinar. Subimos o Monte Roraima, nadamos com tubarões, realizamos trilhas desafiantes, participamos de espetáculos da natureza: a aurora boreal caçada, para coroar nossa viagem. Tantas e tantas experiências nesses 365 dias. 
E tantas e tantas pessoas. São elas que temperam nossa viagem. Foram amigos que conhecemos e revimos, todos contribuindo com amor, carinho, tempo e muitas vezes suas casas, seus quintais, suas ferramentas e até seus cachorros! Passamos Natal e Páscoa com essas novas famílias que encontramos e reencontramos na estrada. 



Mas sentimos também saudades. Da família e dos amigos que estão em Santos e em São Paulo. Da nossa casa. De ler e de falar português. Do conhecido. Ficar tanto tempo somente nós dois também é um desafio.
Sentimos falta de coisas básicas como fofocar com as amigas ou sair para tomar cerveja com os amigos. Todos os dias os dois juntos 24 horas em pouco espaço. É muito intenso. Mas para resumir, o Mauro não precisou dormir fora do carro nenhuma noite.
O Jumbo também está se comportando melhor do que o esperado. Claro, a gente sempre fica de olho nele, fazendo manutenção constante, verificando óleo, filtros, pneus com frequência. E respeitando quando ele está muito cansado, dando algumas mordomias para ele. Afinal de contas, o Jumbo é o terceiro membro da nossa equipe. Já rodamos 60.000 km com ele pelas Américas enfrentando estradas esburacadas, terra, areia e gelo e não tivemos nenhum problema sério. 


Por sinal, andamos mais do que havíamos planejado: inicialmente nossa projeção era percorrer 70.000 km o itinerário completo - Santos/Alaska/Ushuaia/Santos. Estamos na América Central e ainda falta um tantão para voltarmos pro Brasil. Com certeza iremos ultrapassar essa quilometragem. Por ter andado tanto em tão pouco tempo, a viagem tem sido muito corrida. Pode parecer estranho para vocês mas estamos viajando muito rápido, ficar uma ou duas noites em cada lugar é muito cansativo. Sempre na estrada, não sobra tempo para fazer outras coisas como escrever, ler e editar fotos. Tempo livre, sem fazer absolutamente nada, então, é raridade. 
Ainda temos muito chão pela frente. Teremos tempo para aprender a achar um ritmo mais ajustado com nossas necessidades. Tempo para trabalhar a ansiedade ao cruzar fronteiras (para gente, a sensação de cruzar fronteiras é caminhar rumo ao desconhecido). Viajar também se aprende. Afinal de contas, a vida está cheia de possibilidades e a maioria delas, depende das nossas escolhas. 

Os AnimaTops
A gente tem dificuldade em fazer listinha do que mais gostamos, do que menos gostamos, dos 1000 lugares para se conhecer entre outras listinhas que muitas vezes achamos inúteis já que são baseadas em experiências. Mas fazendo um flash back desses dias passados na estrada, algumas coisas nos surpreenderam positivamente; e outras nos decepcionaram. 
Resumindo ao máximo, vamos aos tops

O que deixou nosso anima feliz:

- a Venezuela: país lindo, com uma natureza exuberante e praias maravilhosas. Pena a situação política que eles estão vivendo. 
- Belize: como assim ninguém no Brasil fala de Belize? Com um litoral fantástico e povo hospitaleiro é um super destino de viagem - principalmente para budgets travelers 
- Alasca: além do lugar ser espetacular, com as paisagens mais lindas que vimos até o momento, tem uma fauna incrível. Muito diferente do resto dos EUA, seus habitantes são simpáticos e próximos. Amamos e queremos voltar um dia. 

O que nos desanimou profundamente 

- México: o balde de água fria na fronteira e a postura dos mexicanos tiraram o encanto de um país pelo qual carregávamos grande expectativa. 
- Preços no Brasil: tudo muito caro por uma qualidade mediana; por isso muitos brasileiros preferem passar férias no exterior 
- Fronteiras: qualquer fronteira é um motivo de stress muito grande por serem verdadeiras caixinhas de surpresa. Quem apenas viaja de avião não tem ideia do que é enfrentar fronteiras terrestres, principalmente na América Latina. 

Algumas curiosidades

- Já visitamos oito países americanos durante esse período: Brasil, Venezuela, Colômbia, Estados Unidos, Canadá, México, Belize e Guatemala. 
- muita gente na estrada acha que estamos desenvolvendo um projeto com animais ou que estamos carregando algum na parte detrás do carro. No Mato Grosso, o frentista achava que tínhamos uma onça dentro do carro o olhava com receio enquanto abastecia! 
- recebemos diversas fotos do nosso carro por email. São de pessoas que viram o carro circulando ou parado e resolvem fotografá-lo. Jumbo fazendo sucesso pela América! 
- encontramos muitos viajantes pela estrada. O mais curioso deles foi um motorista de caminhão que nos parou na estrada perto de Houston. Ele é polonês e já deu duas voltas ao mundo de moto. Nos entregou umas xerox de reportagens suas pelo mundo, nos mostrou uma foto de sua filha, mas o mais estranho foi que ele aplicou um teste de inteligência na gente. Foi tudo tão estranho que esquecemos de tirar uma foto dele. 
- viajantes e turistas são espécies diferentes. Viajantes não conseguem subir todos os vulcões, realizar todos os passeios de escuna, visitar todos os pontos turísticos de todos os lugares por onde passam. Claro que fazemos algumas coisas turísticas mas passar o tempo sentado numa praça pode ser enriquecedor numa viagem desse tipo. Fora que muitas vezes estamos cansado e queremos fazer coisas comuns como por exemplo, ir ao cinema. 
- o Mauro é o cozinheiro oficial da viagem. A Marina ajuda a decidir o menu mas a execução fica por conta dele. E é difícil rolar gororóba. Geralmente, a comida fica tão boa que costumamos dizer: essa daria pra estarmos comendo em casa! 
- apesar de não sermos fanáticos por futebol, usar a camisa da seleção ou do nosso time costuma aproximar pessoas. Futebol sempre puxa conversa, sendo uma forma de quebrar o gelo. Usar peças com nossa bandeira também funciona. 
- o Jumbo tem alguns amuletos protetores: uma fitinha do Bonfim amarrada, um dreamcatcher comprado nos EUA e uma cruz mexicana. Sim, muitas vezes conversamos com ele, principalmente quando ficamos alguns dias longe. 
- vocês acreditam que chegou comida brasileira no Alasca? Pois é, no começo estávamos com medo de passar fome ou foi a inexperiência mesmo, e saímos com muita comida. Fomos aprendendo que por mais que seja difícil encontrar a marca preferida de sabonete ou de macarrão, não temos necessidade de ter uma despensa enorme. O básico encontramos em qualquer lugar, não precisa ficar estocando. Nesse tipo de viagem, o mais complicado é comprar a proteína. Não coseguimos comprar carnes que ficam expostas sem refrigeração ou frangos super amarelados não sabemos porque. O peixe acaba sendo mais fácil por estar mais fresco, mas um problema na forma da limpeza. 
- a história do banho natural já começou no Brasil. Naturalmente do cano, para gente isso é frio. Em campings até que vá lá. Mas em muitos hotéis que ficamos o quarto tem wifi, ar condicionado, tv LCD e banho natural. Não conseguimos entender essa lógica. 
- duvido que você desconheça onde vai dormir hoje. Nós sim. A não ser quando ficamos na casa de alguém, dormir se tornou uma grande aventura. Como muitas outras coisas da viagem, estamos aprendendo a escolher onde passar a noite com mais rapidez. 
 - no começo da viagem, usávamos um site que se chamava free campsites. Durante nossa estadia nos EUA, nós criamos nossos free campsites pois começamos a estacionar na rua, em estacionamentos de hotéis e em paradas na estrada além dos manjados (e barulhentos) postos de gasolina e Wallmarts para passar a noite. Essa prática foi super comum no Alasca. 
- não podemos deixar de citar que esses free campings só foram possíveis com a ajuda do nosso super penico, chamado de "porta potti" que compramos nos EUA. É um banheiro quimíco, pequeno, que nos deu muita autonomia e recomendamos para outros overlanders. Podemos dizer que ele foi um marco na viagem e já nos salvou de várias roubadas onde os banheiros são inexistentes, distantes ou imundos.
 - nosso paladar mudou um pouco. Não só estamos comendo, mas gostando de coisas que acharíamos estranhíssimo a um ano atrás. Por exemplo, abacate para brasileiro é sobremesa. Aqui ele está até no meio da sopa e já comemos o tal do abacate com queijo, tortilha, caldo, milho, sanduíche. Torresmo picado no meio do taco, coco fresco com limão e pimenta, picolé de manga com chilli, pasta de feijão preto no café de manhã são para citar algumas coisas para nós tão diferentes. Ainda tem a michelada (cerveja "temperada" com muito sumo de limão, gelo e molho inglês ou caldo maggi além do sal na borda) e o último queridinho dessa verdadeira aventura gastronômica, o bolinho de banana frito recheado com pasta de feijão, polvilhado de açúcar. Pão na chapa com manteiga é que é exótico fora do Brasil!








domingo, 28 de outubro de 2012

Palenque


A serpenteante estrada entre San Cristobal e Palenque, é muito mais famosa pelos seus perigos que por sua beleza. O estado de Chiapas, onde ficam as duas cidades é a base dos Zapatistas, grupo paramilitar que luta pelos direitos indígenas, que são 1/4 da população local. Esses caras não são de brincadeiras e além de ocupação de cidades, conflitos armados com o exército mexicano, tem vários relatos de violência e assaltos de turistas por zapatistas nessa região. Mais frequentes são pedágios não oficiais cobrados na estrada.
A alternativa a esse trecho de estrada é uma volta enorme de mais de 6 horas, com várias serras (desnível de mais de 1500m). Mas nós fizemos como fazemos sempre: conversamos com os locais e perguntamos sobre as condições das estradas e de segurança. E também viajamos sempre de dia.
Todos a quem perguntamos, seja informações turísticas, posto de gasolina, no camping ou outros viajantes, nos disseram para seguir sem medo e foi o que fizemos. E foi mesmo tranquilo, apesar das muitas lombadas (chamadas de topes por aqui), advertência que já tínhamos recebido. É mesmo muita curva e lombada, mesmo pra quem está acostumado com a Rio-Santos. Em 2 ou 3 pontos, havia uma "barreira" que não era mais que um cordão com algumas bandeirinhas ou pedaços de pano colorido de um lado a outro da etrada e com algumas crianças e jovens segurando-a. Não sabemos se é isso que os gringos chamam de pedágio ou barreira zapatista. Nós nem diminuímos a velocidade e a molecada simplesmente abaixava a cordinha para passarmos. Ao invés de pedágio, preferimos ajudar o pessoal comprando alguns produtos da beira da estrada: bananas, coco fresco com limão e pimenta e castanhas cozidas.
Grafites pró-zapatistas

Chegando em Palenque, não perca tempo na cidade, vá direto para a zona do parque arqueológico, onde tem vários hotéis, pousadas e restaurantes. Mas atenção, antes da zona arqueológica, você precisa entrar num parque nacional. Esse parque é pago somente por turistas, os locais são isentos. Mas os guardas da portaria saem às 16:30 e após esse horário a entrada fica livre.
Templo do Sol

As ruínas de Palenque foram as que mais gostamos no México. Pirâmides misteriosas restauradas mas cercadas e ainda meio cobertas pela selva, lindas, super propocionais e com uma energia super legal.
Templo das Inscrições

Infelizmente os lugares mais legais estão fechados ao turismo: o Templo das Incrições e a Cripta do Pakal. Mas mesmo assim achamos que valeu super a pena subir nas pirâmides do Templo do Sol e do Templo da Cruz. Recomendamos também ir no ótimo museu que tem logo depois da saída. Além de vários objetos de Palenque, todos bem organizados e com as devidas explicações, eles tem também uma réplica do sarcófago de Pakal.

No lado esquerdo, exemplos da escrita maia

Palenque foi uma cidade maia, civilização pré-colombiana mais desenvolvida, com uma escrita totalmente formada e grandes avanços em astronomia e em matemática. Nesse campo aliás, vale notar o sistema numérico vigesimal e a utilização do zero. Sua arquitetura e arte são fascinantes. Apesar de já termos lido sobre eles e visto a sala maia no museu de antropologia na cidade do México, a sensação de caminhar pela cidade entre todas as ruínas é indescritível.
Estudantes realizando seus desenhos - Templo do Conde

sábado, 27 de outubro de 2012

A bebida dos deuses



Você gosta de chocolate? Muito ou pouco? Não importa o quanto, quando visitar Oaxaca não perca as lojas que preparam o chocolate na hora para você.
O chocolate nasceu das mãos dos Maias, que com as sementes do cacau faziam uma bebida amarga, que se chamava xocoatl. As sementes do cacau eram tão valiosas que valiam como moeda e apenas os ricos tinham direito de tomar essa iguaria. Já naquela época, a bebida era conhecida por dar energia e ser afrodisíaca.

A semente torrada parece café


Hoje, o chocolate como conhecemos não deve lembrar muito o chocolate da época dos maias, pois é acrescido de açúcar e leite. Mas com as alterações que ele sofreu, caiu no gosto popular e hoje é apreciado por todos, sem discriminação.
Tivemos a oportunidade de conhecer os chocolates belgas, a ultra sofisticação do produto maia, saboroso e macio. Eles são famosos por sua qualidade no mundo inteiro.
Mas qual não foi nossa surpresa em conhecer o chocolate feito na hora na cidade de Oaxaca. Uma prensa simples moe as sementes de cacau torradas. Junto a semente, eles colocam alguns paus de canela e favas de baunilha, para dar tempero. Essa moagem produz um líquido escuro e forte (pudemos provar).

Moedo as sementes com canela

Numa outra prensa, colocam esse líquido com o açúcar (a quantidade varia se quer mais amargo ou mais doce) e dai, sai uma pasta muito perfumada, pronta para o consumo puro ou dissolvida no leite.
Sério, ficamos encantados nessa loja. Tudo muito simples e feito na hora. Tudo muito lindo e muito mágico. Tudo muito perfumado e fascinante.

Produto final

Eles tem um provador dessa pasta além de venderem copos de malteada, uma espécie de chocolate frio batido, o melhor que já tomamos! Sério que naquela loja, fiquei com dúvidas de qual o melhor chocolate do mundo.
Chocólatras do mundo, se passarem pelo México incluam Oaxaca no roteiro! 

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Oaxaca e San Cristóbal de las Casas



Cansados depois de muito andar na Cidade do México e de um longo dia de estrada, chegamos em Oaxaca querendo mais descansar do que passear. Mas também não conseguimos ficar só parados no quarto do hotel ou camping.
Aproveitamos o domingo movimentado no Zócalo, linda praça arborizada de Oaxaca e ficamos um tempão num restaurante, depois num café, só vendo o tempo passar: os vendedores de balão e de artesanato, os casais com filhos e os senhores de chapéu e bengala. Parecia que estávamos dentro do quadro " Sonho de uma tarde de domingo"! Foi com um certo esforço que saímos para dar uma volta no centro antigo e no mercado.


Praça em Oaxaca

Em Oaxaca que experimentamos pela primeira vez o tradicional mole negro, feito com chocolate e que normalmente acompanha peito de frango ou de perú. Comemos em dois lugares diferentes, no café da praça e no mercado, e preferimos a versão mais popular e bem mais barata do mercado. Também foi lá que vimos o chocolate feito na hora, com a trituração dos grãos do cacau e a mistura com especiarias e açúcar. Tão bom que vai valer um outro post pra ele.


Frango com mole

Depois de um dia perambulando pelos cafés e restaurantes da cidade, nos sentimos prontos para mais uma ruína prehispanica. Monte Albán (Mex 57) fica nos arredores da cidade, no topo de um monte, e por isso mesmo a vista de lá é linda. Mas as ruínas em sí não achamos tão legais. O mais diferente são várias figuras talhadas em pedra apelidadas de "Os dançantes" pelas posições não usuais mostradas. Mas parece que ao invés de dança ou qualquer tipo de festa, as figuras representam a castração, tortura e sacrifício de chefes rivais vencidos em batalhas pelos Zapotecas, habitantes de Monte Albán.


Os dançantes castrados

Mirante do Monte Albán

Já havíamos gostado de Oaxaca, mas a surpresa em San Cristóbal de las Casas foi ainda melhor. Com a vantagem de que San Cristobal é menor e menos movimentada do que Oaxaca, que é a capital de seu estado. Várias ruas de pedestre com casas coloniais restauradas e coloridas te convidam para um passeio. E a simpatia extra da cidade, pelo menos pra nós, é a igreja dedicada a São Cristóvão, padroeiro dos viajantes.
A simpática San Cristóbal de las Casas

Mais do que em outros lugares do México, vimos muito artesanato e especialmente muitas jóias feitas com âmbar, que é minerado ali perto. O âmbar é uma resina fossilizada, e apesar de ser vegetal e não mineral, é tratado como uma pedra preciosa. Mas diferente dessas, algumas peças de âmbar podem conter insetos que ficaram presos nelas por milhares de anos. Muito legal, mais ou menos como no filme Jurassic Park, lembra?

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Cidade do México


Ficamos hospedados no camping de Teotihuacan e fizemos bate-volta três dias seguidos para a Cidade do México. Apesar de ficar apenas 50 km de distância, no final achamos que essa não foi uma boa escolha: teria sido muito menos cansativo e não muito mais caro ficar num hotelzinho em Cidade do México mesmo.
A famosa Pedra do Sol
A capital do México possui 20 milhões de habitantes. Isso sem contar as milhares de pessoas que moram na grande México, que fazem bate e volta como nós, com a diferença que é todo o dia. Com essa quantidade de habitantes, tudo sempre está lotado. O metrô, por exemplo, independente do horário sempre estava cheio, abarrotado para ser mais precisa. Também pagando o equivalente a R$ 0,50 a passagem, é assim mesmo que deveria estar. 


Ultramotorista de Taxi !
Taxis nós não pegamos, mas ficamos com vontade, só pela cor simpática de Ultraseven deles !!!

Cidade grande, poluição, gente, barulho com isso tudo junto, seguimos as dicas de todos que visitam a Cidade do México e ficamos sem carro, dependendo de transporte público para ir e vir, que apesar de sempre estar cheio, tem uma abrangência boa. O ideal é pegar um mapa do metrô logo no primeiro dia. O nosso ganhamos da D. Mina no camping mas existem postos de informação ao turista no zócalo que te fornecem de graça.

Tentaram mas as tradições indígenas se mantém
O Zócalo é o melhor ponto para começar a conhecer a capital. Lá estão a Catedral, o Templo Mayor e o Palacio Nacional. Prá gente, o Templo Mayor foi mais interessante que o Museu de Antropologia. O Templo maior era o coração da antiga cidade dos mexicas, Tenochtitlán. Lá havia um enorme templo construído em camadas. Cada novo governante era responsável por construir um novo nível na pirâmide e nas escavações foram encontrados muitos objetos de oferendas aos deuses. Também nesse local é que foi encontrada a famosa Pedra do Sol que está no Museu de Antropologia. No templo maior também ocorriam todos os tipos de sacrifício - animal, humano e auto sacrifício. Era o local que os mexicas acreditavam ser o centro do planeta por isso, era extremamente importante para esse povo. Durante a colonização, os espanhóis fizeram questão de destrui-lo quase todo - só sobraram algumas ruínas dele para contar história e construir uma catedral praticamente em cima, grande e imponente como sinal da nova fé que deveria ser seguida.


Altar de sacrifícios do Templo Mayor; ao fundo, a catedral

Do Templo Mayor você vê a catedral. Por dentro, muito ouro e muitos santos. O destaque fica com a imagem de El Señor del Veneno, uma imagem de Cristo negra acompanhada de uma lenda que eu achei meio confusa sobre envenenamento de um bispo. 


El Señor del Veneno

Do lado esquerdo da catedral, fica o Palácio Nacional (entrada gratuita). Vale a pena fazer uma visita pois lá tem vários painéis do artista Diego Rivera que contam a história do México. Chegamos tarde e o palácio fecha cedo (16:30). Vá com tempo pois numa sala tem a explicação dos painéis que ajuda a compreendê-los.


Olha o tamanho do mural

O tal Zócalo mesmo estava fechado, em reforma ou com algum evento e não pudemos visitá-lo.
Visitamos e recomendamos o Museu Painel Diego Rivera que possui um afresco enorme contando a história do México a partir de um sonho. O nome é "Sonho de uma tarde de domingo na Alameda Central" e apesar da legenda identificando todos os personagens, com a explicação de tivemos de um dos seguranças, o quadro ficou mais vivo. Muito interessante que esse afresco estava num hotel que foi destruído por um terremoto e depois disso, o levaram para o local onde se encontra hoje, construindo o museu a sua volta.


Lindo, expressivo e histórico
Quanto aos outros museus, nos decepcionamos mais uma vez. O de Antropologia tem a Pedra do Sol e junto com ela toda explicação do que significa e onde ficava (basicamente era um ringue onde os gladiadores lutavam até um morrer). Tem bastante coisas sobre os Maias também mas achamos o museu pouco explicativo e um pouco confuso. Juro que esperava mais.
Quem vai no museu para ver cópias?



Simpático se seu uso não fosse para o auto sacrifício
O outro que visitamos foi o de Arte Moderna. Não recomendamos porque tem apenas uma sala com exposição permanente que estava fechada (desconheço o motivo). Só sei que não nos avisaram, pagamos a entrada com tarifa normal, visitamos uma exposição fotográfica (cuja melhor foto era do Sebastião Salgado) e subimos para a tal sala permanente que estava fechada. O maior desrespeito do mundo. Depois dessa, decidimos que o México não era lugar de ir em museus e abortamos as visitas aos da Frida que ficavam super longe com muito receio de chegar e dar com a cara na porta (gato escaldado tem medo de água, certo?) Quer visitar museu, vá para a Europa ou EUA. A exceção fica por conta dos museus de Tula, Templo Mayor e Palenque que são boas surpresas não só pelo preço já estar incluido no ingresso, mas principalmente porque estavam abertos e tem boas peças e explicações.
Para flanar e ver boas lojas e restaurantes, visite os bairros de Polanco e Zona Rosa, verdadeiros oásis na capital. Polanco tem diversos cafés interessantes além dos batidos Starbucks. De uma chance a si mesmo e passe na rede de cafés The Italian Coffee, e prove um capuccino gelado.
Um pouco mais afastado, fica o Santuário de nossa Senhora de Guadalupe, padroeira das Américas. O mexicano é um povo de muita fé e a igreja estava lotada de fiéis. Só achamos um pouco pequena comparando com Nossa Senhora Aparecida. Não faço ideia de como fica nos dias de festas.

Essa é a reprodução da N.S. de Guadalupe
Um passeio muito, muito legal mesmo é o Xochimilco. Fica super longe para quem como nós prefere chegar pelas próprias pernas. Acho que gastamos 1 hora e meia para chegar até o porto de onde saem os barquinhos. Xochimilco guarda a geografia natural da Cidade do México com canais entre pequenas ilhas artificiais e guardadas as diferenças, é como uma veneza mexicana. O passeio é num barquinho multicolorido movido a vara mas o grande diferencial é que rola um super comércio aquático: são vendedores de batatinha, refrigerante, prata e até mariachis que se aproximam do seu barquinho tentando vender seu serviço. Achamos super simpático e recomendamos. Mas vale pechinchar o preço, acabamos pagando menos da metade da "tabela" escrita na entrada do porto.


Xochimilco

A Cidade do México ou simplesmente México como é chamada pelos locais tem bons programas. Mas é preciso garimpar.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Teotihuacan


Imponente, importante e fácil de chegar, o sítio arqueológico de Teotihuacan é o mais visitado do México.
Estávamos bem ansiosos para conhecê-lo, pois não sobrou quase nada da capital azteca erguida sobre o lago Texcoco. Os espanhóis demoliram tudo, construindo sobre ela suas casas, palácios e igrejas. Mas Teotihuacan sobreviveu.
O sítio é enorme e não tem nenhuma sombra. Leve chapéu, protetor solar e sombrinha ou guarda chuva. Apesar de pedirmos, também não nos entregaram nenhum mapa na entrada e recomendamos chegar já com o seu (por sorte nosso guia tinha um mapinha de lá), pois ficar perambulando sem rumo não é legal.
A gigantesca Pirâmide do Sol
Nós entramos e fomos direto pra Pirâmide do Sol, atraídos como que magneticamente por ela. Subimos os quatro lances de escadas íngremes quase sem pensar e logo estávamos no topo, ou na parte mais alta que os turistas podem chegar. De cima dela, ficamos encantados vendo todo o complexo sistema de pirâmides, edifícios e muitas escadarias entre eles. A frustração foi saber que a pirâmide do sol não foi restaurada, mas sim reconstruída e nesse processo, acabaram fazendo-a com cinco níveis ao invés dos quatro originais.  Depois disso acabamos perdendo um pouco da magia do lugar.

Mas seguimos para o Palacio de los Jaguares, Templo de los Caracoles Emplumados e o Palacio de Quetzalpapátotl, local onde presumivelmente habitavam sacerdotes e admiramos desenhos em estuque incrivelmente preservados.
Pintura no Templo dos Caracoles Emplumados
Apesar de ser mais baixa que a pirâmide do sol, o topo da Pirâmide da Lua está na mesma altura daquela, pois ela foi construída sobre um terreno mais alto. Também achamos a Pirâmide da Lua mais bonita, simétrica e proporcional que a do Sol.


Pirâmide da Lua ao fundo.

Depois de andar meia hora no sol, saímos do parque pela porta 4 para visitar o Palacio de Tepantitla. Quando chegamos na porta, um guarda nos informou que o museu estava fechado. Surpresos, conferimos em nosso guia que estávamos dentro do horário de funcionamento. Mas fomos informados que apesar disso, a responsável havia saído para almoçar e não tinha ninguém no lugar dela. Assim se quiséssemos visitá-lo deveríamos esperar uns 45 min até que ela voltasse. Desistimos dessa e resolvemos procurar a Cueva Astronomica, usada pelos sacerdotes para marcações astrológicas ligadas ao calendário e ao ciclo agrícola. Há ! E quem disse que encontramos? Seguimos nosso mapa, perguntamos mas ninguém nem sabia da existência dela, ou pelo menos não quiseram nos ajudar.



Calzada de los Muertos - de cansados, ufa!
Depois dessa caminhada toda, fomos para o ar condicionado do museu nos refrescar um pouco. O museu não é muito grande , mas tem uma boa vista panorâmica climatizada da Pirâmide do Sol.
Serpente emplumada

Mais descansados e refrescados, seguimos a Calzada de los Muertos para visitar La Ciudadela, um complexo que acreditavam ser as residências dos governantes. O lugar é bonito, um quadrilátero com 15 pirâmides sendo que ao leste, está o Templo de Quetzalcóatl. Interessante que um dos governantes construiu uma outra pirâmide na frente dele para escondê-lo. Sua fachada é linda, adornada com várias esculturas da serpente emplumada. 


Templo de Quetzalcóatl

Apesar de todos os problemas, as ruínas de Teotihuacan são impressionantes e merecem uma visita. Se você está na cidade do México, pode ir até Teotihuacán com uma excursão organizada de 1 dia ou pegar um coletivo na Estação Terminal Autobuses del Norte, sala 8, para San Juan Teotihuacán/ Piramides por uns R$5,00. Pergunte pelo onibus que passa nas ruínas e não na cidade de San Juan. A viagem dura uns 45 min, sem trânsito. Para voltar, pegue o coletivo no mesmo ponto onde desceu, retornando à Central Autobuses del Norte, com acesso às linhas de metrô.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Nossa primeira pirâmide azteca


Saímos de Patzcuaro às 9h com destino a Tula de Allende, preparados pra 6h de estrada, como mostrava nosso GPS. O programa era visitar as ruínas de Tula e ficarmos na cidade, aproveitando pra lavar nossas roupas.
Mas apesar de ser recente, nosso mapa Garmin da América do Norte está bem desatualizado na parte do México. Acabamos pegando uma estrada que não estava no mapa, bem pedagiada como sempre, e levamos menos de 3h pra chegar. Decidimos visitar as ruínas antes do almoço e depois procurarmos onde comer e dormir. Enquanto passávamos pela cidade, já perdemos a vontade de ficar por lá, pois ela é horrível. Mas com certeza nas ruínas, um local turístico, teria algo melhor pra comer. Será?
Entramos nas ruínas pela porta Sul e passando no pequeno museu que tem no caminho, já demos de cara com um chac-mool super bem conservado, mas sem a cabeça. Chac-mool são pequenos altares de pedra, mais ou menos como uma mesa de centro, na forma de uma pessoa com a barriga pra cima. Sua função era aparentemente para receber oferendas, mas também pode ter sido usado para fazer sacrifícios animais e humanos.


Chac-mool esperando um coração

No museu também descobrimos que na verdade Tula foi a capital Tolteca. Portanto não é aztec. Os toltecas são antecessores dos aztecas e ainda hoje não se sabe ao certo sua origem.
A pirâmide de  Tula fica num ponto alto com uma linda vista pro vale. E a presença de oito atlantes de pedra em seu topo dá um ar super místico ao lugar. Enquanto estávamos lá vimos pessoas meditando ao seu redor.

Atlantes
Em sua base ainda tem algumas partes preservadas dos desenhos em estuque que originalmente a cobriam inteira. Em alguns pontos ele está melhor conservado e dá pra ver até alguns restos das cores originais.
Nosso guia recomendava visitar o museu próximo da entrada norte e então seguimos pra la, torcendo pra encontrarmos uma vilinha cheia de bares e restaurantes ou lanchonetes, só pra descobrir a roubada que foi entrar pelo lado sul. Mais de 1km de sol depois, conseguimos tomar uma lata de fanta laranja. Mas pelo menos esse museu valeu a pena. Pequeno mas bem organizado, com várias peças toltecas, todas com placas explicativas e um chac-mool ainda melhor conservado que o primeiro. Mas já era mais de 3h e a fome apertava. O açúcar da fanta laranja foi digerido em segundos e estávamos com fome.


Águia comendo coração, relevo comum na cultura tolteca.

Passamos novamente na cidade e ficamos com ainda menos vontade de comer por lá. Acabamos conseguindo comer numa conveniência Oxxo de posto de gasolina, que é onipresente no México. De lá decidimos seguir mais 1h até Teotihuacán, onde tínhamos uma indicação de camping. E foi ótimo porque o camping Teotihuacan Trailer Park é bem melhor que a média mexicana e a proprietária Doña Mina é super simpática e atenciosa.


Atlantes cuidando do vale

domingo, 21 de outubro de 2012

Jalisco e Michoacan


Saimos de Guanajuato e fomos para a cidade de Guadalajara, no estado de Jalisco. Fomos para Guadalajara na intenção de realizar dois passeios: conhecer o museu de arte de Zapopan e o de cerâmica em Tlaquepaque. Qual não foi nossa frustação depois de demorar uma hora para conseguir estacionar o carro e pagar o estacionamento,  descobrir na porta do museu que ele estava fechado e que iria reabrir em novembro! Dessa forma, abortamos a visita a Tlaquepaque e seguimos em direção a zona produtora de tequila, com certeza as fábricas estariam abertas para visita.

Agave azul

E não erramos dessa vez. Alegres turistas lotavam as principais destilarias experimentando diferentes tequilas. Dois são os principais destilados no México: o mezcal e a tequila. Os dois são produzidos com agave mas a diferença é que a tequila é feita com agave azul que é cultivada apenas no estado de Jalisco. A primeira fábrica da tequila e a mais conhecida do mundo, a José Cuervo, fica na cidade de Tequila. Os tours são pagos e com horários fixos, quando chegamos havia acabado de sair um, por isso não fizemos e resolvemos passar em outra tequilaria no caminho, as Tres Mujeres para provar as tequilas. É muito importante ressaltar que o jeito que costuma-se beber tequila no Brasil como um shot com limão e sal não tem nada a ver como eles bebem a tequila por aqui. Ela vem em copinhos e é feita para ser saboreada aos pouquinhos. Mesmo por que, ela é super forte. Nossa impressão é que essa maneira de beber de uma vez é coisa inventada por estadunidense...
Alambique nas Tres Mujeres

Bar vendendo drinks com tequila na Jose Cuervo

De Jalisco fomos para o estado de Michoacan, um estado agrícola e com uma cultura popular bem marcante. Dizem que esse estado tem a melhor comemoração do dia dos mortos, em 2 de novembro. Macabro escrever assim mas como os mexicanos veneram e lidam com a morte é no mínimo bizarra.
Em Michoacan, ficamos num camping na cidade de Pátzcuaro, mais uma linda cidade colonial no caminho com muitas lojinhas e restaurantes, super charmosa. O ponto de encontro são as praças, a vida noturna e diurna se concentram por lá.

Em Pátzcuaro, vimos um jogo super curioso: com uma bola incendiada. Chamava-se huaukua.

Aproveitamos a proximidade e visitamos a cidade de Uruapan, conhecida principalmente pelos seus abacates. São deliciosos e foi nessa cidade que provei uma bebida de abacate, suco de laranja e soda di-vi-na. Mas não somos tão fascinados por abacate para justificar nossa visita a Uruapan. É que lá próximo se encontra o vulcão Paricutin, o vulcão mais novo do mundo, nascido em 1943. A história do nascimento do vulcão é muito interessante: num dia de trabalho no campo, um agricultor ouvindo uns barulhos estranhos no solo, percebeu uma fissura. Chamou uns amigos e tentaram tampar essa fissura com pedras e terra mas o vulcão cresceu e entrou em atividade causando muitos tremores de terra e lançando cinzas e lava. Em poucas semanas, duas cidades foram soterradas e tiveram que se mudar. Isso serve para a gente pensar que apesar de toda sensação de controle que temos, o ser humano é extremamente vulnerável aos fenômenos da natureza.

Vulcão Paricutin

Hoje existem passeios que sobem a pé ou a cavalo no topo do vulcão. Nos contentamos em fazer uma parte do percurso com o carro e visitar a igreja de San Juan Parangaricutiro que foi parcialmente coberta pela lava. Foi um passeio fantástico, passear pela cidade soterrada e observar o vulcão ao longe.
Apesar de ser muito popular entre os locais, achar e fazer o melhor caminho até a igreja é difícil. Nosso caminho foi terrível, uma estrada de terra muito esburacada que sai de Nuevo  San Juan de Parangaricutiro e chega até a ruína da igreja. O melhor é pegar a estrada em direção as ruínas a partir de Angahuan, um caminho mais curto e mais utilizado.

Ruínas com vulcão ao fundo

Segue a posição geográfica das ruínas da igreja de San Juan: N 19° 32,070'     W 102° 14,908'
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